Ao
chegar à igreja, Ricardo já estava e Manoel acabava de chegar. Nos
cumprimentamos e perguntei a Ricardo como seria, enfim fomos esperar e ver se
alguém chegava, pois Ricardo já tinha distribuído, segunda e terça, um pequeno
folheto que continha o endereço da igreja, então fomos esperar na porta da igreja.
Conversa vai, conversa vem, eis
que surge uma mulher de altura mediana carregando um cobertor e uma marmita,
não havia visto quando ela chegou, estava na rua pedimos que ela saísse da rua,
nos perguntou onde era o hospital de Taguatinga, a principio pensei que ela
estava com dor, porém nos disse que seu filho estava no hospital e Ricardo
perguntou se ela queria a marmita e ela falou que tinha uma marmita especial,
perguntamos se queria água e a convidamos para se sentar, Ricardo lhe deu água.
Não havia percebido inicialmente mas quando
comecei a conversar com ela senti o hálito de bebida muito forte como nunca
havia sentido antes, conversei um pouco com a mulher que se chama Léia me disse
que esta em Brasília há 15 dias e que mora em Uberlândia -MG, falou que veio
para Brasília para o atendimento de seu filho chamado Vitor de apenas 15 anos, perguntei
porque ele estava lá inicialmente ela disse que não queria dizer depois me
disse que seu filho estava com câncer e que o cobertor e a marmita eram para
ele, disse que ele estava muito magro que podia morrer e sempre quando falava
de seu filho ficava emocionada, porém era difícil saber se ela dizia a verdade,
mas tenho para mim que era, mas fica a dúvida.
Neste momento chegaram 2 homens,
que Ricardo havia dado marmita no dia anterior, eles foram e pegaram para eles
e para outros que não puderam ir, ao vê-los Léia ficou agitada, falou que eles
eram o "diabo", que foram eles que a embebedaram, que eles queriam
namorar ela, nesse momento comecei a pensar nos perigos da noite nas ruas com
pessoas embriagadas, maldosas, drogadas.
No decorrer da conversa ela me disse
que tinha aids e que havia passado para seu filho por isso ele estava lá.
Esperamos mais um pouco, neste período
Léia ouviu a capoeira e foi lá dançar disse que já havia feito aulas em sua
juventude, em seguida falou que era cigana, pois bem como ninguém mais chegou
fomos levar Léia para o hospital, durante o caminho falou que queria alguém
para casar, e o cheiro do hálito de bebida ficava muito forte quando falava,
ela tinha um olhar vago meio cabisbaixo, suas unhas todas pretas, e tinha
alguns hematomas no rosto, disse que tinha sido presa, por matar seu marido,
nos pediu bíblia, pois disse que ficava mais calma quando lia, e queria uma
cruz.
Ao chegarmos no
hospital perto da emergência estava um grupo de pessoas entregando sopa para
alguns moradores de rua que estavam ali Léia parecia conhecê-los ao vê los e
ficou agitada mais uma vez, pediu uma marmita Ricardo pegou entregamos para ela
e ao final fizemos uma oração.
Em seguida fomos para o centro,
porém não achamos ninguém, passando de carro perguntamos a outros, porém
disseram que não queriam, pois estavam usando drogas, isso me deixou espantada fiquei
surpresa ao ver tantas pessoas usando crack e não querendo comida,
consequentemente, passamos em outra rua e Ricardo viu um homem lhe perguntamos
se queria e ele disse que naquele momento iria a padaria pedir comida, vi em suas palavras de quem ficou impressionado e disse "Deus
sabe das coisas”, tinha ali um jovem e uma moça para os quais entregamos
marmitas também, o jovem tinha 17 anos e estava sóbrio e pensei qual a
perspectiva para um jovem ou para quem quer que seja viver nas ruas?
Em seguida fomos para outra rua e
perplexa por pessoas estarem usando drogas em horário nem tão avançado 19:30, perguntei
a Ricardo e Manoel como que aquelas pessoas tinham acesso aquelas drogas, Manoel
falou que é fácil e que a pedra de crack custa em média de 10 reais
e a duração do êxtase dura cerca de 3 minutos, fiquei me
perguntando como a pessoa consegue sair dessa vida pois parecem e de fato
estão tão perdidos tão escravas presas a droga, vivendo nas ruas, sozinhos na
noite, então Manoel falou que já havia usado crack e que passou por
uma clinica e com lagrimas nos olhos nos disse que Deus o livrou de onde ele
estava e só Cristo é capaz de liberta uma alma escrava de drogas, do
pecado!
Por hora alimentamos
o corpo de pessoas feitas de carne e osso como nós que de fato estão sedentas,
mal vestidos, com rostos tão peculiares, com almas imortais que
desesperadamente precisam de Cristo, porém não se dão conta disso, usam a droga
como fuga? Talvez, sei que esta lhes tira o raciocínio, a lógica, o
pecado domina a vida destes indivíduos, a maioria que entregamos
marmitas nos agradeciam e pedem que Deus nos abençoe parece-me que sim eles tem
um conhecimento de Deus, porém imensamente raso. Senti vontade de conhecer
mais a fundo a trajetória de cada um daqueles que entregamos marmitas
o porque de eles estarem onde estão e se queriam sair dessa vida, porem as
vezes essa conversa não é possível pois as vezes se encontram sobre efeito da
droga.
Foram momentos de aprendizado e comunhão, pois pude ver no breve momento que
estivemos juntos vi um caráter cristão em Manoel e Ricardo, na fala de Manoel
vi um homem arrependido, regenerado, temente a Deus e o tendo como porto
seguro, um servo que ajuda no pouco que tem e serve a Cristo com alegria,
Ricardo fez as marmitas durante a tarde se empenhou, vejo um homem dedicado em
busca de ajudar o próximo, vejo mansidão em seu caráter e um homem de fé por se
empenhar em um projeto, ambos peregrinos pecadores cheios de falhas, assim como
eu, mas graças a Cristo justificados que receberam misericórdia e agora nada
mais fazem do que suas obrigações que é transmitir essa misericórdia buscando
fazer algo para o reino de Deus, buscando viver para Deus.
Sei que
somos falhos por isso peço que Cristo nos fortaleça e nos ajude em nossa
caminhada nesse serviço, e que de acordo com Sua vontade outros irmãos venham
fazer parte, e que aqueles a quem ajudamos venham a conhecê-lo e terem suas
vidas transformadas, peço que Deus nos capacite a falar as boas novas e que a
cada dia venhamos a viver cada vez mais o seu evangelho, Jesus vivia entre os
pobres e necessitados, somos seus seguidores e devemos fazer o mesmo ajudar os
que jazem nas trevas assim como estivemos outrora e que a vontade soberana de
Deus seja feita, amém!
Ester Santos.
"Meu ardente desejo e minha esperança
são que em nada serei confundido,mas que, hoje como sempre, Cristo será glorificado no meu
corpo (tenho toda a certeza disto), quer pela minha vida
quer pela minha morte’ Filipenses 1:20