O zé é aquele morador de rua que ao vir buscar
sua marmita chegava e saia resmungando alguma coisa sem sentido, pelo menos
para nós. Foi assim por vários dias, sempre do mesmo jeito, até que um dia, ele
chegou e me chamou num canto, dizendo que não era nada pessoal, mas não gostava
das coisas que eu falava. Fiquei surpreso e perguntei que coisas eu falava que
não o agradavam, ele enrolou e não disse. Diante de minha insistência, mais uma
vez ele disse que o problema não era eu, mas que ele não gostava quando eu
entregava a marmita e dizia : “vai com Deus”; Claro que eu ri, o abracei e o
levei até a placa da igreja, perguntei se ele sabia ler, ele respondeu que não,
então li a placa para ele, disse para ele que estávamos num ambiente cristão,
eu era uma pessoa me preparando para ser um pastor, então era natural que eu
dissesse aquelas palavras. Ele apenas disse que gostava das marmitas, mas não
gostava das palavras, então eu disse a ele que não diria mais, já que ele não
gostava. Entreguei a marmita e acabei soltando um vá com Deus, ele olhou para
mim, balançou a cabeça e saiu, como de costume, resmungando alguma coisa.
No dia seguinte, ele chegou do mesmo jeito, eu o
cumprimentei , entreguei a marmita e disse boa noite, ele deu alguns passos,
olhou para trás rindo e disse: “não acredito que você não vai dizer aquelas
palavras”, eu disse para ele que me esforçaria para não dizer, já que ele não
gostava, e ele se foi, rindo.
O nome dele não é Zé, eu perguntei seu nome e ele me
disse que eu poderia chamá-lo de José, uma vez que ele não lembrava mais seu
nome, “então fica Zé mesmo, não tem problema”, disse ele.
Há dois dias que ele não aparece para pegar sua
marmita, espero que esteja tudo bem com ele, que o Senhor o esteja protegendo,
onde quer que ele esteja, assim como todos os “Zés e Marias” que assim como
ele, estão morando na rua.
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