Ontem a noite, durante a entrega das marmitas, foi bem “punk”
, como gosta de dizer Rev. Airton , diante de uma situação extrema. Até a
entrega na igreja foi tranquilo, mas quando fui para Ceilândia, ai a coisa
começou a ficar punk. Enquanto entregava marmitas, há uns 30 metros de onde eu
estava uma moça caiu no meio do asfalto, logo, vários moradores de rua correram
e carregaram ela até a grama, um deles sentou e colocou a cabeça dela em seu colo. Terminei de
entregar naquele ponto e fui até lá com o carro, assim que estacionei vi o
rapaz que estava coma moça deitada no colo, resmungando , mandando sair, que
não tinha nada para eu ver ali, alguns deles reconheceram meu carro e falaram
para ele: “calma rapa, é o irmão”. Eu então me aproximei e perguntei se era droga e ele balançou a cabeça
afirmativamente, perguntei como ela estava e ele resmungou algo e disse que
tava de boa, eu disse a ele que estava indo para o hospital de Ceilândia e
perguntei se ele não queria levá-la, ele disse que não e repetiu que estava de
boa, então ele perguntou para ela, “tá de boa né neguinha, tem certeza? A moça
estava deitada e apesar do olhos estarem fechados, havia uma movimentação
intensa do seu globo ocular, parecia que ela tentava abri-los. Ela mexia as mãos e o corpo nervosamente, como se
estivesse tendo algum tipo de convulsão, mas conseguiu manear a cabeça, entendi
aquilo como um sinal positivo e sai dali.
Saindo dali fui para o hospital de Ceilândia, procurar o
Edson, morador de rua que fez o último cursilho e na semana passada foi
baleado. Chegando lá, dei o nome dele e não encontraram no sistema, era como se
ele não tivesse dado entrada no hospital, mas como eu tinha certeza, insisti e
fui em mais dois lugares, onde a resposta foi a mesma; como eu estava com a
camisa de serviço (gola clerical) um dos rapazes que me atendeu disse que eu
poderia entrar e procurar pelos leitos, ele falou: “Pode entrar seu padre,
procure a vontade”, foi uma grande peregrinação pelo hospital e seus leitos,
muitas pessoas, estava super lotado, gente nova, velha, uns sóbrios, outros
dopados, alguns dormindo, outros acordados, muita gente sozinha, triste, mas
com certeza todos sofrendo não só por suas doenças, mas também pelo péssimo
estado em que se encontravam, muitas macas pelos corredores, espalhadas, as
vezes até pareciam jogados. Devo dizer que fui muito bem tratado, todos foram
muito solícitos em me ajudar, mas depois de andar para todo lado, falar com
muita gente, procurar em leitos, setores, dar o nome para ser procurado em
listas e listas e sempre com a resposta negativa, lembrei que quando alguém
entra baleado num hospital é obrigatório o preenchimento de um relatório pelo
policial de plantão, e foi neste local que descobri que o Edson deu entrada no
hospital no dia 07 a 01 hora da manha,
com uma perfuração a bala, e a mesma estava alojada em seu estomago, diante
disto descobri o setor em que ele esteve e só então descobri que ele
recebera alta médica no dia anterior.
Sai do hospital e fui procurá-lo na rua, não o encontrei, mas já obtive algumas
informações de onde ele está, espero achá-lo em breve e trazer notícias a
todos. Enquanto peregrinava presenciei um jovem que entrara baleado, várias
perfurações, perna com fratura exposta e que perdera muito sangue, eu fiquei
próximo dele por alguns minutos e pude ver a tristeza em seu olhar, pude também
em função desta proximidade conversar com as pessoas que o atendiam, para
depois tentar consolar a mãe (eu a encontrei enquanto conversava com o
policial) que estava lá fora aos prantos, não sabia informações, não sabia o
que acontecera, e só chorava. Quando saí a procurei e tentei relatar o que
tinha visto, fiquei com pena dela. O rapaz, estava roubando e fora perseguido
pela polícia, com quem trocou tiros. É triste, saber que alguns ali estão
próximos do fim da vida, e mesmo diante desta situação, continuam afastados do
Senhor, continuam a ser indiferentes para sua Palavra. Que o Senhor tenha misericórdia de todos
eles, e que eles possam ser alcançados nestes poucos momentos que lhe restam e
àqueles que ainda tem alguma caminhada pela frente, que eles possam encontrar a paz necessária para o que lhes
resta, porque depois, pode não restar nada, a não ser o inferno.
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